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Ar Fresco

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Análise de resultados - PSD

O maior derrotado desta noite é sem dúvida o PSD e por consequência Pedro Santana Lopes, apenas por ser líder. De Durão a Santana, passando por todos os não-apoiantes, todos são culpados!

São culpados os que deixaram Durão passar o testemunho a Santana, os que legitimaram ou nada fizeram para que Santana chegasse ao poder. Se o PS conseguiu a maioria absoluta, isso deve-se em grande parte a demérito do PSD.

Ontem seria a noite dos ajustes de contas, mas Santana não sairá do poleiro tão facilmente. E relembro que não há sufrágio directo dentro do PSD. Haverá "sangue" certamente. Mas a questão é: e se Santana vencer?

O País precisa de um PSD forte e unido, que forme uma oposição consciente e que se apresente como alternativa credível. Quem for o futuro líder terá uma tarefa difícil, até em termos de relacionamento com a Direita. Esperemos para ver... mas o futuro não se lhes apresenta risonho!

Análise de resultados - PP

Assumiram o falhanço de quatro objectivos. Falaram de extremas-esquerdas e de Deus e o líder caiu. Pareceu haver fair play, pareceu haver uma saída honrosa com a assumpção dos resultados e da derrota. Mas Paulo Portas, ao longo deste últimos anos, construiu a imagem do partido em seu redor. Cortou com o passado (antigos dirigentes) e apresentou um caminho e um discurso centrado na sua pessoa.

Com a sua saída, o partido fica órfão! Quem assumirá agora? Nobre Guedes já disse que não. Lobo Xavier ou Pires de Lima? Outro? O PP mudará certamente e de forma drástica. A curiosidade é saber até que ponto a Direita, em geral, continuará unida. Muito dependerá dos respectivos líderes.

Análise de resultados - CDU e BE

Os partidos da vitória moral. Conseguiram dois objectivos: recuperar deputados e derrotar uma possível maioria de direita. Mas o esforço terá sido em vão, pois o PS conseguiu uma maioria absoluta.

Para os que diziam que o PS poderia aliar-se à esquerda, a resposta ficou dada ontem. O Bloco já assumiu a luta e a CDU avançará em breve. A maioria absoluta era, por isso, necessária. Contudo julgo que estes resultados são circunstanciais e a resposta será dada brevemente nas autárquicas, onde não acredito que BE e CDU consigam resultados tão "bons".

O Bloco provou definitivamente que ainda não tem maturidade, nem responsabilidade para governar. O radicalismo das posições impede e impedirá qualquer coligação futura. Quanto à CDU, julgo que também não querem, são demasiadas décadas como oposição...

As posições de ambos em relação, ora à NATO, ora UE são incongruentes com um governo de um estado europeu.

Análise de resultados - PS

Vitória histórica e convincente! O que há muito esperavam foi conseguido. Numa noite de grande vitória ficaram, no entanto, sinais preocupantes. Qual o verdadeiro rumo deste novo Governo? Quais são as medidas prioritárias a implementar? Qual a dimensão e composição da equipa ministerial? Qual vai ser o custo do cheque em branco? Aguardam-se respostas...

Por um lado, confesso que fiquei apreensivo, quer com o discurso vazio de Sócrates, quer com os sorrisos da velha guarda socialista. Por outro lado, que sentido faz criar um Governo, sem nenhuma ligação com o passado, sem experiência de governação. Quando Durão tomou posse não ouvi ninguém dizer que vinha a "tralha cavaquista"...

Vamos, no início, dar espaço para respirar e governar, mas com a convicção de que agora a responsabilidade é maior e única. Tudo o que de bom e mau acontecer é da exclusiva responsabilidade do PS. Esperemos que daqui a quatro anos os possamos julgar. Mas até lá o Ar Fresco vai estar atento...

E será crítico, quando for necessário!

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

A Mercantilização da Universidade e o Emprego (I)

Ontem durante o debate, o momento que mais esperava era o tema da educação. Como sempre, todos os candidatos fugiram dele como o Diabo da Cruz. No entanto, Portas não conseguiu esconder o seu objectivo de elaborar um ranking universitário, que consistiria exclusivamente na capacidade de uma instituição colocar os seus alunos no mercado de trabalho.

Mas não é só Portas. Sócrates e Santana, tal como ele, encontram a saída mágica para o beco do desemprego através da colocação de “jovens licenciados” em empresas através de estágios. Portas vai ainda mais longe e “converte” os humanitatis todos para as áreas técnicas. Afinal de contas, nós não precisamos de gentalha de Humanidades, o País precisa é de técnicos especializados para dotar as empresas de pessoal “tecnicamente especializado em especializações práticas”.

Ou seja, “meus amigos”, vocês perderam 4 anos, pelo menos, a tirar um curso que não vale nada, não serve para nada e que só existe para encher universidades e enganar alunos como vocês. Por isso, toca a reconverter todos os humanitatis para as “verdadeiras áreas do saber especializado”, que nem “novos cristãos”.

Ora todos nós sabemos no que consistem estes estágios (de 6 meses a 1ano, em média): exploração abusiva das capacidades de alguém que procura o primeiro emprego, ou um emprego sequer, em troca da famigerada “experiência” de que necessitam avidamente para os curricula. É o regresso do pleno emprego, precário, mas pleno.

Atentemos apenas na definição de estágio, no sentido pedagógico-profissional: “espaço temporal em que um candidato toma conhecimento das práticas e técnicas necessárias ao exercício de uma dada profissão; neste intervalo o candidato tem por missão observar, questionar e, em certas alturas, participar na concretização de algumas tarefas para uma melhor aprendizagem.” (Mais grave: em certas profissões, que têm ordens, durante o estágio o candidato não pode executar certas tarefas por não estar ainda habilitado.)

Agora, a definição de estágio, nos dias de hoje, na prática: “espaço temporal em que um candidato executa as mesmas funções, tem as mesmas responsabilidades, e contribui de igual modo para a empresa do que qualquer outro funcionário; a única diferença é que lhes estão vedados quaisquer benefícios, e recebe um ordenado mísero, de estagiário, e muitas vezes comparticipado pelo Estado, e tem a certeza de que em 6 meses ou 1 ano está na rua!”.

Por isso Senhores Sócrates, Portas e Santana, estágios? Pleno emprego? Não, obrigado! Não precisamos, nem queremos esta “integração” no mercado!

[Já não é a primeira vez, mas esta ideia da mercantilização da Universidade é algo que me revolta. E não é o facto de ser de esquerda e da área das Humanidades, como lhe chamam, que me leva a este pensamento “estereotipado”. Voltarei às universidades, propriamente ditas, brevemente]

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Democracia sem esperança?

Até às eleições, e porque a lama, a falta de ética e o vazio de ideias predominam nesta campanha, provavelmente não voltarei aqui, mas não resito a deixar aqui o que recebi por e-mail.

Normalmente estas piadas, nem o chegam a ser, mas que melhor retrato desta campanha, destes políticos, especialmente os do Governo demissionário, do que este:


"ANTES DA POSSE

O nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais
para alcançar os nossos ideais.
Mostraremos que é um grande estupidez crer que
as máfias continuarão no Governo, como sempre.
Asseguramos, sem dúvida, que
a justiça social será o alvo de nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
os recursos económicos do País se esgotem.
Exerceremos o poder até que
compreendam que
somos a nova política.

APÓS A POSSE

LEIA as linhas inteiras DE BAIXO PARA CIMA"

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Closer: o Amor não mora aqui…

Este fim-de-semana fui finalmente ver o filme Closer. Contrariando a maior parte das críticas que tinha lido, gostei! Não conhecia a peça, nem tão pouco o livro.

Primeiro que tudo, julgo que o argumento estava apropriado. Os diálogos eram curtos, muito directos, pouco aprofundados. Mais importante do que era dito, era o que ficava por dizer e o que se depreendia da linguagem corporal das personagens, dos olhares, das hesitações, do tom. O Amor não mora aqui, apesar dos múltiplos “I love you”s, não é de amor que se trata o filme, mas da satisfação de impulsos, digamos, “amorosos”. A história é curta, entrecortada por alguns flashbacks e flash-forwards. Afinal o próprio filme é uma teia de relações cruzadas em torno de quatro personagens, “os estranhos”, em torno da verdade e da mentira e do questionar quase doentio de todas as personagens.

Quanto aos actores, digam o que disserem, Natalie Portman, com ou sem clichés, enche o ecrã de sensualidade, um misto de rapariguinha atrevida com femme fatale. É a rapariga numa cidade estranha, carente de afectos e possessiva nas relações. Provavelmente é a mais honesta. Clive Owen é o male bastard, directo e cru nas abordagens. Este médico bonacheirão e machão não desilude nem “engana”, é o mais verdadeiro. Quanto à fotógrafa Júlia Roberts, foi uma surpresa. É de todas a personagem mais triste, parecendo estar sempre com um sentimento de culpa, é aliás assim que inicia o primeiro relacionamento; as fotografias e os planos (close-upscloser) que tira mais não são do que a reflexo dos seus sentimentos nos outros, os estranhos. Finalmente, o escritor falhado (“jornalista” de obituários) Jude Law, surge como o mais frio e calculista, terminando enganado (se é que não acabam todos…) e só.

Por fim, uma chamada especial para a banda sonora, com a irresistível música de Damien Rice, The Blowers Daughter, da qual destaco o seguinte excerto que resume o espírito do filme:

(…)
Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?
(…)
I can't take my mind off you

I can't take my mind...
My mind...
my mind...
'Til I find somebody new

Nota: Um bom post sobre este filme pode ser encontrado no já indespensável Antestreias , por Nuno Reis. Mas o melhor é mesmo o da batukada, So Close... (que inveja!)

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Dois "blogs" obrigatórios!

Dois blogs são neste momento obrigatórios.

O blog Wolf Tongue poderá vir a ser uma referência no que respeita à literatura anglófona, mais concretamente na sua vertente poética; é para visitar regularmente.

Em tempo de eleições e com os constantes bombardeamentos de sondagens, nada melhor do que visitar com atenção o Margens de erro [já há algum tempo disponível na coluna ao lado]. Através deste blog, termos como "amostra", "redestribuição proporcional, "estratificado aleatório" ou "por quotas", entre muitos outros, são descodificados e tornados intelegíveis pelo cidadão mais leigo.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

A morte do "PPD/PSD"! Renascerá o "PSD"? (II)

Sobre este assunto é obrigatório ler os seguintes posts O PPD de Santana Lopes ; Perguntas ao PSD , de Vital Moreira no excelente Causa Nossa.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

A morte do "PPD/PSD"! Renascerá o "PSD"?

O PSD falhou no momento em que Durão Barroso deu lugar a Santana Lopes. Mais grave ainda foi, contudo, o facto de nenhum “histórico” ou “notável” do PSD, pessoas como Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e muitos outros, ter marcado presença no congresso da consagração da Santana. Bem sei que estava tudo preparado para um unanimismo, mas doeu ver apenas um Marques Mendes confrontar uma liderança fraca e ilegítima.

O PSD continuou a errar, após a queda do Governo (e sua demissão!?), ao não avançar com uma liderança diferente nestas eleições. Não vale apenas descrever o que Santana fez mal, ou não fez sequer. A incompetência imperou. Santana demonstrou inequivocamente que não tem competência para cargos de liderança, desde o Governo à Presidência. Foi muito triste assistir à morte (lenta) política de Santana.

Actualmente, o PSD está desesperado, sem rumo. Hoje é o coitadinho, amanhã é o lobo maquievelista que não sonha o que é ética política e dispara sobre todas as direcções e instituições. O “PPD/PSD” está a morrer.

Quando assisto à incredulidade da gente boa e competente do espectro PSD, incluindo o P.Pereira do Abrupto, pergunto apenas: como deixaram que o vosso partido chegasse a este ponto? O que não foi feito para impedir tudo isto? Vale a pena apelar agora para que todos tenham as cotas em dia para destronarem Santana da cadeira do poder? Porque fomos todos obrigados a assistir à putrefacção lenta da carreira política do pior primeiro-ministro desde há muitos anos?

P.S - Só espero que não seja tarde demais! Pois a alternativa ainda não me convenceu (leia-se Sócrates).

P.S.2 - A campanha do PSD está a ser cobarde e nojenta! Como não têm nada a perder, já vale tudo? Só pergunto, para onde irá o eleitorado PSD?

Auschwitz

No passado dia 27, fez 60 anos que o campo de concentração de Auschwitz foi libertado. Sempre considerei quase inacreditável que tal página negra da História tivesse ocorrido aqui, na civilizada Europa.

De todos os documentários que vi, de todos os filmes (desde os julgamentos de Nuremberga, do A Vida é Bela até à Lista de Schindler), de todos os livros, nenhum me impressionou tanto como o Sem Destino, do “Nobel” Imre Kertész.

Numa entrevista chegou mesmo a referir:

Auschwitz é o meu maior tesouro. A proximidade da morte é inesquecível. A vida nunca foi tão bela como nesse longo momento.

O autor bem tentou dizer que o livro não é totalmente autobiográfico, mas foi o retrato mais “puro” (embora ficcionado, afinal é um romance) do que foi passar por um campo de concentração que já li [também confesso que não li o suficiente…]. A descrição é sempre muito naif, chegando quase à ingenuidade de uma criança, e totalmente diferente da normal vitimização (justa e compreensível) que esperaríamos de tal caracterização.

Este livro não trata de “bons e maus” e a brutalidade é-nos dada como “normal”. Afinal de contas o personagem central, Köves György, diz-nos que o pior de Auschwitz era a “rotina” e a ausência de esperança de mudança, que não tinha de ser necessariamente a liberdade...

Após ler o livro, não sinto uma sensação de pena, nem de raiva, nem de náusea; apenas uma profunda admiração pelo modo como “Köves György” apresenta o seu pathos, culminando nesta belíssima catarse:

(…) Lá também, entre as chaminés, nos intervalos do sofrimento, havia alguma coisa que parecia ser a felicidade... Sim, é isso, é da felicidade dos campos de concentração que devo falar da próxima vez que me fizerem perguntas, se um dia as fizerem.

Sem Destino, Imre Kertész, em Portugal disponível pela Editorial Presença